Eu nunca a entendi
16:15
Ao chegar na cozinha dei com mamãe chorando enquanto fazia o almoço. Cheguei a pensar que estava cortando cebolas, mas não; mesmo assim ela se desmanchava em lágrimas que poderiam temperar a comida em vez do sal sem problemas. Fiquei ali na porta, parada, observando as águas caírem e minha mente foi pra longe.
Mamãe nunca entendeu o por que da minha preferência por amigos homens em vez de gurias, e nem por que da minha boca sempre saem tantos palavrões. Mamãe nunca entendeu minha aversão por salto alto, e nem minha necessidade em usar tênis. Mamãe nunca entendeu meus gostos musicais, e nem minhas cantorias no chuveiro. Mamãe nunca entendeu minha paixão pelo jornalista e nem por que, de repente, eu me apaguei. Mamãe nunca entendeu porque escolhi publicidade, e nem por que escrevo poemas.
Mamãe nunca entendeu o que se passa em mim, e mesmo assim, naquele momento, vendo-a chorar pelos motivos que eu nunca entendi, cuspi o orgulho e a abracei.
E, então, chorei também.
3 comentários
Estava eu na cozinha cortando cebola, de repente minha filha chega e me abraça chorando...
ResponderExcluirEstranhei, mas comecei a chorar também sobre meus braços.
lindo texto gil!
ResponderExcluirAh, amandinha! Obrigada!
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