Ela virou o disco e colocou a música que ele mais gostava. Voltou dançando com os pés descalços no chão e sentindo o frio do piso lhe arrepiar a espinha. Ele observava tudo atento, debaixo de um cobertor rasgado e perfumado pelo aroma a dois. Ela sorriu e o chamou pra dançar. Antes de aceitar o pedido, ele olhou pela janela e admirou o entardecer. Ainda era outono e as folhas caíam. Ele sorriu, se levantou e foi até ao encontro dela. A música cantava suavemente no toca discos antigo que encontraram no porão. Cada nota melodiando lentamente o encontro daqueles corpos sedentos. Ele a abraçou e os dois, enfim, começaram a dançar, rodopiar, se expandir. Fizeram daquela sala seu altar, sua pista, sua vista pro mar. Eles não conseguiam parar. Se jogavam em meio aos acordes, sorrindo um para o outro como duas crianças que juram amizade eterna. Se deliciavam em perceber que a chuva que caía la fora não podia os alcançar, não podia os impedir, não podia os acordar. Depois de mais alguns rodopios, a música ditou o fim e o silêncio tomou a sala. Foi quando, num beijo, os dois erraram o passo e decidiram voltar ao aconchego do sofá.
Como num filme dirigido por um deus amante, você me chega sorrindo pedindo por mais. Eu que guardo no peito todo o amor do mundo, não nego e lhe entrego tudo aquilo que me pedes. (Um beijo, é só isso que eu quero).
Como numa composição escrita por um anjo errante, você me chega em chamas pedindo por paz. Eu que guardo no leito toda a harmonia do mundo, não nego e lhe entrego a calmaria do vento que me pedes. (Um beijo, é só isso que eu quero).
Como num sonho sentido por um coração pulsante, você me chega sozinho pedindo por nós. Eu que guardo com jeito toda a vontade do mundo, não nego e lhe sou tudo que me pedes. (Seu beijo, é só isso que eu quero).
vou lhe bebendo de dose em dose
lentamente para não enlouquecer
mas em meu sangue corre a vontade
a vontade incontrolável de gritar
e pedir por mais
“outra dose, garçom
pode virar”
a vontade interminável de lhe beber
me embebedar de você
me embebedar de seus charmes
poréns e quem sabe
matar a sede que corta minha alma
e que me faz sofrer por querer um pouco mais
outra dose
o fim da paz
de você me embriagar
daqueles que surgem através de conversas no whatsapp com os amigos ♥
lentamente para não enlouquecer
mas em meu sangue corre a vontade
a vontade incontrolável de gritar
e pedir por mais
“outra dose, garçom
pode virar”
a vontade interminável de lhe beber
me embebedar de você
me embebedar de seus charmes
poréns e quem sabe
matar a sede que corta minha alma
e que me faz sofrer por querer um pouco mais
outra dose
o fim da paz
de você me embriagar
daqueles que surgem através de conversas no whatsapp com os amigos ♥
ah! se eu fosse te dar um nome
diferente do que já tens
teu nome seria "poesia"
daquela sem rima, sem métrica
sem linha
poesia confusa, difusa
na entrelinha
versos embriagados
tragados em madrugadas
sonhos e canções
versos envergonhados
perdidos em medos
e ambições
versos que ao sorrir
alinham o mundo na mais perfeita
obra-prima
ah! se eu fosse te dar um nome
diferente do que já tens
teu nome seria "poesia"
a poesia da minha insensatez
a poesia de minhas ilusões
a poesia mais bonita já escrita por alguém
diferente do que já tens
teu nome seria "poesia"
daquela sem rima, sem métrica
sem linha
poesia confusa, difusa
na entrelinha
versos embriagados
tragados em madrugadas
sonhos e canções
versos envergonhados
perdidos em medos
e ambições
versos que ao sorrir
alinham o mundo na mais perfeita
obra-prima
ah! se eu fosse te dar um nome
diferente do que já tens
teu nome seria "poesia"
a poesia da minha insensatez
a poesia de minhas ilusões
a poesia mais bonita já escrita por alguém
na desarmonia de nossos sons
no meio da multidão
venço a tola timidez
e lhe tiro para dançar
tento, em vão, ensinar o seu passo
a se alinhar juntamente com o meu
na composição em tom menor
embalada por um cantor
você, desajeitado, erra o tempo
o modo, espaço
erra o compasso, se enche de nós
e eu, de tão perto, sorrio sem jeito
sem saber se devo correr
achar outro par
beijar sua boca
ou continuar a dançar
no meio da multidão
venço a tola timidez
e lhe tiro para dançar
tento, em vão, ensinar o seu passo
a se alinhar juntamente com o meu
na composição em tom menor
embalada por um cantor
você, desajeitado, erra o tempo
o modo, espaço
erra o compasso, se enche de nós
e eu, de tão perto, sorrio sem jeito
sem saber se devo correr
achar outro par
beijar sua boca
ou continuar a dançar
Hoje eu não quero rimar. Quero apenas um violão, uma sombra e você no meu abraço. Eu, que poucas notas sei tocar, lhe escreveria uma canção com apenas dois acordes, só para lhe ter perto ouvindo atento meus segredos melodiados nessa estranha afinação. Eu, que pouco sei sobre você, aqui, lhe seria tudo que me pedisse. O sol banhando seu corpo, o vento tocando meu rosto, e no ar o silêncio que grita mil versos, nos chama pra vida, pro mundo, no intenso. No céu, nuvens brincam de ciranda, e então somos duas crianças rindo do tempo. Como num sonho. Um sonho dentro de um sonho. Um sonho onde eu encontrava você. Um sonho que não precisa acabar.
Caminho pela chuva fina enquanto o dia se desfaz lentamente por trás das nuvens. Apesar da saudade em meu peito, eu me sinto em paz. Pouco a pouco as pessoas saem de suas casas, agora já sem medo da água, e eu levemente ensopado procuro qualquer lugar para sentar e observar a noite cair. O sol já se foi e eu não sei o que sinto. Canto qualquer melodia em assovio enquanto avisto as primeiras estrelas surgirem por entre as nuvens escuras. Eu penso em você por alguns segundos, mas logo em seguida desvio pela direita para algum pensamento inútil ou banal. Já passou, como a chuva. Vejo que todos os cantos da cidade estão molhados, assim como minha camisa e meu jeans rasgado, e começo a ansiar por companhia. Talvez a lua apareça por aqui. Enquanto penso nisso, carros iluminam o brilho do asfalto, crianças correm por todos os lados, e a hora passa sem avisar quando ir embora. Outro carro, um cachorro molhado, um casal de namorados e um pai preocupado. Eu continuo a olhar pro céu, continuo a assoviar, continuo a sentir essa paz estranha gritando em meu peito como pequenos pássaros a cantarolar. Então, a lua apareceu. E com ela fui para casa, onde tirei meus sapatos, minha roupa e, nu, fui até minha cama sonhar com anjos.
Eu quero te observar enquanto procura novas formas nas nuvens do céu. Eu quero te ouvir cantar nossa música favorita enquanto caminhamos pela rua sem direção. Eu quero te ver dançar em frente ao espelho enquanto dedilho no violão as cantigas que na infância nos embalaram. Eu quero te contar meus segredos enquanto observamos as estrelas da noite fria. Eu quero te ver dormir em meu colo nos finais de tarde quentes de janeiro. Eu quero pedir sua mão e observar seus lindos olhos se arregalarem em surpresa.
Eu quero te ver subir no altar exalando amor,
E ao exalar seu amor, ser todo seu.
Eu quero te ver estrelada vestida de céu,
E fazer da sua vida uma eterna lua de mel.
Texto: Mariana Gil
Fotografia: Yasmim Rodrigues
"A vida em marés" é uma parceria do blog Mar e Gil com a fotógrafa Yasmim Rodrigues. Todas as segundas uma nova foto e um novo texto será postado na page dela, unindo sentimentos, letras, olhares, lembranças e amor.
Conheça mais seu trabalho:
ele tragou mais uma vez
antes de me olhar nos olhos
e dizer:
faça-me uma canção
corei na timidez
com medo de não conseguir
transpor tamanha perfeição
em minha composição humilde
o fitei em resposta, aflita
esperando que me mostrasse
por onde seguir, em que tom começar
as notas a montar
ele nada disse, apenas se aproximou
e de tão perto pude ouvir em seu peito
as batidas que seu coração aflito dava
a música que em seu leito guardava
juntei-me a ele em calor
dos seus lábios fiz meu compasso
até compor na ternura daqueles braços
minha mais perfeita canção
antes de me olhar nos olhos
e dizer:
faça-me uma canção
corei na timidez
com medo de não conseguir
transpor tamanha perfeição
em minha composição humilde
o fitei em resposta, aflita
esperando que me mostrasse
por onde seguir, em que tom começar
as notas a montar
ele nada disse, apenas se aproximou
e de tão perto pude ouvir em seu peito
as batidas que seu coração aflito dava
a música que em seu leito guardava
juntei-me a ele em calor
dos seus lábios fiz meu compasso
até compor na ternura daqueles braços
minha mais perfeita canção
Desenho: Raphael Brensis |
Pele de Iracema
Olhar de Capitu
Na tribo distante
Brotou como em flor
Cresceu sob o olhar
De quem a criou
Perfume de rosa
Raio de sol
Dona da lua
Do rio, da montanha
De dia cigana
De noite estrelas
Constelação
Índia dos ventos
Nascida no pó
Lábios carnudos
Selvagens e puros
Rainha das árvores
Da chuva, do tempo
Rainha de todos os pensamentos
Deusa dos céus
Infernos e meios
Guerreira da mata
Do som, dos apelos
Lança-me a lança
Do olhar, dos desejos
Lança-me à vida por inteiro
danço
e não me canso
e no balanço
me lanço
até seus braços
seus fortes braços,
meu amor
e não me canso
e no balanço
me lanço
até seus braços
seus fortes braços,
meu amor
Eu não sei explicar esse turbilhão de sentimentos que tem invadido minha corrente sanguínea como a água das correntezas do rio mais forte. Não sei explicar de onde vem essa vontade estranha de querer ouvir todas as palavras do mundo pelo som da tua voz. Não sei porque tenho passado as noites em claro escrevendo poemas baratos só para te ver sorrir. Eu que já sabia de pouquíssimas coisas, hoje de nada sei. Não sei que horas são, nem se vai chover, muito menos qual é a oração em que devo me apoiar. Não sei para onde ir, onde ficar, e muito menos qual o momento de sair. Eu só quero entrar. Entrar nesse teu coração ferido e manchado, entrar na tua casa forrada de trapos, entrar na tua mente e concertar os estragos. Eu só quero rimar. Meu nome com o teu, minha boca na tua, dançar com você no meio da rua. Eu só quero amar.
tinha eu
essa estranha mania
de, por vozes que ouvia,
me apaixonar
harmoniosos acordes
agudos, tons fortes
simples estrofes
me levavam o ar
de noite ou de dia
eu sonhava, sofria
com a voz de um deus
a me acalentar
foi quando, sem jeito
num meio de um beijo
sua voz me chamou
bem solta a voar
fiquei sem saída
perdida na rima
de uma canção
que insistia em cantar
você me pedia
falava, insistia
e pela sua voz
resolvi me entregar
essa estranha mania
de, por vozes que ouvia,
me apaixonar
harmoniosos acordes
agudos, tons fortes
simples estrofes
me levavam o ar
de noite ou de dia
eu sonhava, sofria
com a voz de um deus
a me acalentar
foi quando, sem jeito
num meio de um beijo
sua voz me chamou
bem solta a voar
fiquei sem saída
perdida na rima
de uma canção
que insistia em cantar
você me pedia
falava, insistia
e pela sua voz
resolvi me entregar
eu sou quem eu sou
por ser
sem medo
sem meio
e semeio
na alma
toda dor e
amor que deságua
do leito
do peito
na estrada
sou um barco
em alto mar
por ser
sem medo
sem meio
e semeio
na alma
toda dor e
amor que deságua
do leito
do peito
na estrada
sou um barco
em alto mar
Depois de algumas doses tomei coragem e olhei nos seus olhos: eles eram lindos. Eu já havia conhecido antes olhos bonitos, mas não como os seus. Eles me fitavam intensamente, e pareciam querer dizer algo, algo que eu ainda não sabia. Olhei para o lado timidamente tentando não parecer confusa, mas eu estava. Não sabia direito o que ali estava fazendo, nem o por que de você estar sentado naquela mesa, naquela noite, daquele jeito. Tomei mais uma dose e olhei novamente para os seus olhos. Você sorriu e perguntou se eu queria um gole de whisky. Eu aceitei. Beberiquei de um gole tímido mas deixei a marca do meu batom vermelho. Você tomou o copo para si novamente, observou a marca e ali bebeu como se me beijasse. Apesar disso eu só conseguia olhar para os seus olhos. Eu estava hipnotizada pelos seus olhos e já nada podia fazer. Alguma música de algum cantor tocava nas caixas de som, e meus amigos me acenavam cantando aquelas estrofes conhecidas, mas que eu não conseguia identificar. Eu só ouvia a melodia dos seus olhos, eu só contava o compasso dos seus olhos. Você se aproximou, disse que estava embriagado e perguntou se eu também estava. Sorri, e disse que sim. Estava embriagada pela beleza dos seus olhos.
Texto: Mariana Gil
Fotografia: Yasmim Rodrigues
"A vida em marés" é uma parceria do blog Mar e Gil com a fotógrafa Yasmim Rodrigues. Todas as segundas uma nova foto e um novo texto será postado na page dela, unindo sentimentos, letras, olhares, lembranças e amor.
Conheça mais seu trabalho:
Poema na Edição nº 11 do Jornal O Duque |
“...teu rosto nunca me deu trégua”
Deixastes a casa vazia
Vazia como a dor que em meu peito se manifesta
Mulher Irene, quanta saudade traz tua ausência.
Em minha pele ainda guardo
Marcas de tua boca cor de sangue
E de tua selvageria que me atacava os sentidos.
És a agonia que sinto em meu corpo
O sopro distante do vento que corre...
A gaveta da direita abriga versos inacabados
Rimas incompletas que levam o cheiro de teu suor
O suor de tua pele macia e quente como o fogo.
Mulher Irene
O telefone silenciado já não chama por teu nome
E o rádio incomodado já não canta nossas canções
Tudo é cinza em tua ausência
Desde a brasa da lareira até os raios de sol
Tudo é ontem ou amanhã, nunca hoje
Nunca brilha, tudo é depois,
Tudo jamais chega.
Quero matar a saudade de fome e solidão
Me alimentar dos raios da lua que choram na noite
Adentrar a madruga com pensamentos de relógio
E buscar a manhã esquecendo que chegamos a existir
Não existíamos.
Mulher Irene, quanto desejo traz tua lembrança
Quanta sede deixastes nesse solo que não pode vestir chuva
Meus amores inquietantes em teu coração pulsante
Nossas almas frente à frente
O teu beijo!
Tua mão em minha nuca...
Nossas cores entre lençóis, suspiros e gemidos
Nossas notas melodiando até a lua e as estrelas
Tu e eu, Irene
Pronomes aquarelados em cinza e abandono
A vida era viva por viver em teus feitiços
O amor transbordava e invadia os teus planos
Eu podia ver através dos teus olhos
Penetrar tua alma com segredos e venturas
Segurar tuas mãos frias enquanto caminhava a esmo...
Mulher Irene, hoje não me resta muito
Alguns cigarros baratos, um violão desafinado
Roupas de cama sujas, sua marca de batom
Flores por regar em vasos tortos na janela...
Irene, Irene
Quero novamente ouvir a tua risada
Irene, ri
Quero morrer tarde e te enterrar com a mágoa
Foi você um dos primeiros a me aquecer como o sol aquece a vida. Fazia de ti um ninho seguro para repousar meus medos, sentimentos e cansaços. Noite após noite éramos você e eu, como amigos, como amantes, como duas almas em uma terna união.
Mas o tempo, traiçoeiro, desgastou tuas forças, te rasgou o peito, te levou para longe. E hoje, nesta noite fria, nessa cama vazia, sinto na pele a sua falta, meu querido cobertor.
(sobre quando meu cobertor favorito rasgou e minha mãe o deu embora)
diretamente em seus olhos fitei
forte e destemido me encontrou
e o meu, de tonto, se desviou.
correu a noite, escuridão
e algumas luzes em volta observando
os seus olhos de encontro aos meus
por um segundo
coração acelerado se derreteu.
se foi sonho, embriaguez
lucidez ou confusão
nunca irei entender
mas como esquecer aqueles olhos
que na calada da noite longa
insistiam em querer me comer?
Separei toda a felicidade do mundo e guardei aqui nesse potinho para você usar. Não se acanhe, chegue mais. Tem felicidade suficiente para gargalhar a vontade, para amar a vontade e quem sabe cair de vez em quando. Nesse potinho coloquei felicidade suficiente para lhe ver dançar suas músicas favoritas enquanto o sol se põe; felicidade suficiente para lhe ver pintando em aquarela as paisagens mais bonitas que seus olhos irão ver; felicidade suficiente para amar outra vez. Dentro desse potinho há felicidade para alimentar a alma em canção, fé em coração, ou até mesmo uma nação. Dentro desse potinho há sorrisos reluzentes de inocentes amantes, viajantes, inquietantes. Há esperança. Há carinho. Dentro desse potinho há um mundo inteiro. Por isso, não se acanhe. Aceite meu humilde presente, e me deixe usar toda essa felicidade ao seu lado.
Texto: Mariana Gil
Fotografia: Yasmim Rodrigues
"A vida em marés" é uma parceria do blog Mar e Gil com a fotógrafa Yasmim Rodrigues. Todas as segundas uma nova foto e um novo texto será postado na page dela, unindo sentimentos, letras, olhares, lembranças e amor.
Conheça mais seu trabalho:
Pense um pouco em nós
No que se foi, no que restou
Respire fundo, devagar
Há silêncio em todo canto
Há promessas em abandono
Pense um pouco em nós
E, quem sabe, perceba
Todo amor que foi claro e devoto
Como freiras à imagem compadecida
E o rio se entregando ao alto mar
Pense um pouco
Em nós
Em mim
Você
No Caetano cantando no rádio
E na chuva caindo lá fora
Pense um pouco
Pense mais
Eternize
Vamos viver em paz
No que se foi, no que restou
Respire fundo, devagar
Há silêncio em todo canto
Há promessas em abandono
Pense um pouco em nós
E, quem sabe, perceba
Todo amor que foi claro e devoto
Como freiras à imagem compadecida
E o rio se entregando ao alto mar
Pense um pouco
Em nós
Em mim
Você
No Caetano cantando no rádio
E na chuva caindo lá fora
Pense um pouco
Pense mais
Eternize
Vamos viver em paz
Com o dente-de-leão entre os dedos você sorri com sinceridade. Posso ver no seu sorriso toda a pureza do mundo, e isso me traz paz. Você pergunta: "mas isso é uma flor?", e eu digo que não. O nome disso é esperança. Você sorri novamente, fecha os olhos, assopra o pequeno pedaço de esperança e faz seu pedido. Você é o meu dente-de-leão.
Enquanto você observa os pedaços da esperança pairando pelo ar, tento descobrir qual o pedido que você assoprou. Talvez você queira voar, bem alto, com os anjos, pra lá das nuvens e dos aeroplanos. Talvez você queira encontrar um tesouro precioso em terras desconhecidas e lutar contra os piratas do grande mar. Talvez você queira conhecer uma fada, ou até mesmo o vilão do seu desenho favorito. Talvez você tenha pedido para nunca crescer, como o Peter Pan e seus amigos, ou que os raios do sol lhe façam mulher. De qualquer forma, você sorri e eu não posso deixar de fazer o mesmo.
Pego outro dente-de-leão, assopro, mas nada peço. A esperança que eu preciso está em você.
Texto: Mariana Gil
Fotografia: Yasmim Rodrigues
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Conheça mais seu trabalho:
e quanto a tristeza
lança-a para fora
para longe
deixe em outrora
vista a rima
nova rima
rítmica fração do tempo
emoção
novo verso
em reverso
direção
lança todo mal
se esvai de todo desespero
vá sem medo
em coração
lança-a para fora
para longe
deixe em outrora
vista a rima
nova rima
rítmica fração do tempo
emoção
novo verso
em reverso
direção
lança todo mal
se esvai de todo desespero
vá sem medo
em coração
Os raios de sol tocavam meu rosto como a paz toca o mar ao fim de cada dia. Eu podia correr livre pelos campos coloridos em busca de tesouros e fadas madrinhas que iriam me aconselhar: corra mais rápido. Eu vivia correndo. Na escola, na rua, na fazenda de meu avô... Eu nunca parava. Sentia o vento beijando minha pele como minha mãe fazia ao me colocar para dormir. Corria em sonhos, em carrosséis... até nos livros de histórias. Se eu fosse um herói dos quadrinhos, teria sido o mais rápido de todos os heróis já criados, o herói mais rápido do mundo. Eu ultrapassaria os trens, os carros, bicicletas... até meu cachorro ficaria para trás. Eu correria sempre mais rápido, e além. Eu correria até o futuro. E como as fadas um dia me disseram, com um sorriso no rosto também iria dizer: corra mais rápido.
Texto: Mariana Gil
Fotografia: Yasmim Rodrigues
"A vida em marés" é uma parceria do blog Mar e Gil com a fotógrafa Yasmim Rodrigues. Todas as segundas uma nova foto e um novo texto será postado na page dela, unindo sentimentos, letras, olhares, lembranças e amor.
Conheça mais seu trabalho:
gosto tanto de você
não como gosto
de lasanha no domingo
ou milk shake de morango
mas gosto de você
mesmo você não sendo o leãozinho
ou um herói dos quadrinhos
eu gosto de você
gosto tanto de você
que até viro criança
faço trança no cabelo
só pra poder te ver
gosto tanto de você
que, manca, entro na dança
e no olhar levo um apelo
pra tentar te convencer
não como gosto
de lasanha no domingo
ou milk shake de morango
mas gosto de você
mesmo você não sendo o leãozinho
ou um herói dos quadrinhos
eu gosto de você
gosto tanto de você
que até viro criança
faço trança no cabelo
só pra poder te ver
gosto tanto de você
que, manca, entro na dança
e no olhar levo um apelo
pra tentar te convencer
Às vezes sinto tanta vontade de escrever sobre você, que me sinto transbordar. É como se a alma cansasse de guardar tanta saudade e quisesse converter isso em algumas palavras espalhadas ao vento. Sim, eu sinto sua falta. Nem menos, nem mais do que antes. Apenas saudade suficiente para querer lhe escrever algumas bobagens.
Hoje pela manhã choveu amor e eu não me molhei. Depois que você se foi passei a ter medo de chuva e só saio de casa na certeza de que ela não vai me abraçar. Assisto ao show dela pela janela do ônibus, observando sua entrega em cada árvore, construção e coração que passam pelas ruas. Às vezes desejo me entregar a ela também, mas a vontade sempre passa. Eu bem sei o que é viver em meio a um temporal. Eu bem sei também os estragos que o amor faz e não vale a pena arriscar. Não agora, nessa estação.
Lembro de todas as noites em que choveu e você estava lá para se molhar comigo. Chovia amor e nós nos ensopávamos como duas crianças. Eu não tinha medo. Eu também não tinha tantas cicatrizes e nem essa saudade imensa que domina meu peito toda vez que nossa música toca na rádio. Não existiam temporais, e se chegassem a existir, jamais nos atingiriam.
Hoje pela manhã choveu você e eu não me molhei.
Texto: Mariana Gil
Fotografia: Yasmim Rodrigues
"A vida em marés" é uma parceria do blog Mar e Gil com a fotógrafa Yasmim Rodrigues. Todas as segundas uma nova foto e um novo texto será postado na page dela, unindo sentimentos, letras, olhares, lembranças e amor.
Conheça mais seu trabalho:
uma lágrima cai por
um segundo e aqui jaz
um coração que
um dia amou
um certo alguém que o
incerto além
despedaçou
um segundo e aqui jaz
um coração que
um dia amou
um certo alguém que o
incerto além
despedaçou
Ouvi dizer que os primeiros raios da primavera sairão de seus olhos ao despertar de mais um sonho perfeito. O calor do seu peito fará nascer flores, frutos e amor, e tudo virará cor como num arco-íris. O céu explodirá em versos de amor e a terra se deleitará nas doces melodias vindas de sua boca.
A forma da semântica me obriga a concordar com o poeta quando diz: "Quem falou de primavera sem ter visto seu sorriso, falou sem saber o que era". E concordo em gênero, número, grau e poesia. Lençóis, cigarros e pés descalços comprovam também que a primavera chegou bem antes de Setembro, por que não em Março lá pro fim do mês, de um ano qualquer?! Tinha poesia em como você deixava em mim um cheiro seu, impresso pele sobre pele. E se tinha poesia, tinha primavera.
Eu vivi primaveras diárias de tal maneira que o frio me castiga a doer nos ossos, o calor intenso me fadiga a carne, e eu continuarei a odiar tudo e todos enquanto a primavera ainda for você, o seu sorriso.
Ouvi dizer que os primeiros raios da primavera sairão de seus olhos, e que finalmente poderei florescer em você.
sinto, ao respirar
essa vontade tamanha
de bem alto me jogar
e em livre queda voar sem direção
longe de todo esse caos que habita
o dia
a noite
a vida
a vontade de me afogar
caio como a chuva cai
no cais
na casa
no campo
caio como a criança cai
no canto
como o canto que canta os passarinhos
caio como a pétala ao chorar
no chão as mágoas floridas
as mágoas feridas
as mágoas não findas
lágrimas amigas
lágrimas antigas
caio como cai a noite
o dia
o raio
a descida
caio para me levantar
acordei meio tom abaixo
num compasso inacabado
de uma melodia sem ritmo
que se fingia canção
não
o piano está calado
o violão deprimido
e a voz vestida de frio
já não componho serenatas
nem trovas, ou cirandas
já não posso me afinar
não posso enfeitar
semínima, semi nua
nem mesmo a lua
pode me salvar
num compasso inacabado
de uma melodia sem ritmo
que se fingia canção
não
o piano está calado
o violão deprimido
e a voz vestida de frio
já não componho serenatas
nem trovas, ou cirandas
já não posso me afinar
não posso enfeitar
semínima, semi nua
nem mesmo a lua
pode me salvar
Noite passada me perguntaram de você. Virei o copo antes de responder com um sorriso meio torto, meio triste: eu não sei. Todos em volta puderam sentir o abismo em que me colocaram quando citaram seu nome sem avisos prévios. O mesmo abismo em que me atirei quando você chegou em minha vida sem os mesmos avisos prévios. Tenho dormido pouco por causa do trabalho, bebido muito para esquecer o cansaço e mesmo assim perco tempo sonhando com nossos dias. Desde que você se foi parei de fazer tantas coisas, desaprendi de sentir tantas outras. Por vezes cheguei a esquecer o que fomos, e isso me causou dor. Não aquela dor física que passa com um ou dois comprimidos, mas sim aquela dor vazia que ecoa na alma sem a gente nem saber o por quê. Na verdade, desde que a primavera se foi é como se existisse um buraco dentro do meu peito e que nada pudesse preenchê-lo. Tenho procurado seus beijos em tantas outras bocas sem sucesso algum. Tenho colhido murchas flores buscando seu doce perfume, sem nada encontrar. Nada sacia, nada encaixa. É como se essa solidão fosse sua, só sua, e eu não tivesse autorização para me livrar dela. Chamei o garçom, pedi outra dose e continuei a noite. Talvez você invada meus sonhos novamente, talvez eu acorde sentindo sua falta, talvez seja só ressaca.
dei com o fim à frente
olhando para mim ansioso
esperando que eu desse um passo alto
e ali colocasse as chaves de todos os portões
fiquei parado olhando em volta
de todas as pontuações que se exibem
escolhi a vírgula por sua curva
e sua silhueta a contra luz
nua ela me seduz sorrindo
exibindo seus pequenos seios descobertos
remexendo os quadris com seu jeito menina
e atirando suas flechas de cupido em meu peito
as palavras dão suas pausas apertadas
o mundo gira numa clave quebrada
e eu observo a vírgula fazer seu trabalho
separando quem não merece ter um par
acho que, não sei, amo
par, e mais um, solidão
não aceito mais outra pontuação
quero ficar, com vírgula
Texto: Mariana Gil
Ilustração: Giovanna Maria
de amar fiz-te esquecimento
para na chuva banhar-te de ternura
e não mais me alimentar da raiva oferecida
lembrar de ti apenas como uma breve rima
e da ferida causada pelo adeus
construir uma canção
para na chuva banhar-te de ternura
e não mais me alimentar da raiva oferecida
lembrar de ti apenas como uma breve rima
e da ferida causada pelo adeus
construir uma canção
gira o gato e papagaio
gira o mundo no véu dessa melodia
no véu da noiva poesia
deixaram um par de sapatos ao entrar
e pegadas da nudez de uma vergonha
pés descalços que tocam o chão machucado
traços de cacos no céu despedaçados
que agonia ouço no canto do pássaro azul
que temor ao sentir o vento frio gargalhar
o castelo de pedras se levantou
e parece engolir toda a cor a dominar
gira mundo cão
gira o pato e o elefante
corro até o vale verde reluzente
até encontrar um destino acertado
fumaças me rodeiam chamando meu nome
sorrisos brilhantes dançam por entre as árvores
enquanto eu converso com os animais pintados
e eles me indicam como poderei acordar
Texto: Mariana Gil
Ilustração: Giovanna Maria
no baile de gala dançaremos
eu, você, os músicos
a sala repleta de grilos
um ou dois botões perdidos
me perderei no saiote rodado
que gira como estrelas num carrossel
preso em fitas coloridas
que mais parecem pedaços de via láctea
o tecido do seu corpo
vai se juntar ao meu na costura
cintura a cintura, boca a boca
e falta de ar
chamem o rei e matem-no
o trono dourado a mim pertencerá
assim como a amada flor-de-lis
vestida com o bordado dos rios
continuem a música! vamos dançar
nesse meio compasso manco
nessa sala enfeitiçada
quero a rainha amar
Texto: Mariana Gil
Ilustração: Giovanna Maria
o camelo caminha na linha
enquanto camillo corta o cabelo
a linha se veste de tinta
e o cabelo canta no chuveiro
que noite bonita grita lá fora!
que poesia abriga em meu peito!
as nuvens se envergonham em cor de amora
enquanto dançam juntas sem jeito
rima breve, rima longa
o chá de flor está quase pronto
rima curta, rima além
quero virar flor também
canto eô, canto eá
gaivotas de gravatas
rapunzel de mini saia
borboleta a caminhar
a linha corre a esmo
paralela ao camelo
e o camillo chega em casa
com uma leve dor no joelho
Texto: Mariana Gil
Ilustração: Giovanna Maria
enquanto camillo corta o cabelo
a linha se veste de tinta
e o cabelo canta no chuveiro
que noite bonita grita lá fora!
que poesia abriga em meu peito!
as nuvens se envergonham em cor de amora
enquanto dançam juntas sem jeito
rima breve, rima longa
o chá de flor está quase pronto
rima curta, rima além
quero virar flor também
canto eô, canto eá
gaivotas de gravatas
rapunzel de mini saia
borboleta a caminhar
a linha corre a esmo
paralela ao camelo
e o camillo chega em casa
com uma leve dor no joelho
Texto: Mariana Gil
Ilustração: Giovanna Maria
na calada da noite
te matarei com botão de flor
e com alfinetes enfeitarei seu corpo
dançarei sob o sereno da madrugada fria
até que a manhã possa dar seus passos
me mostrando o caminho para o mar
onde navegarei até a imensidão
deixando seu corpo apodrecendo
junto com todos os amores que me restaram
te matarei com botão de flor
e com alfinetes enfeitarei seu corpo
dançarei sob o sereno da madrugada fria
até que a manhã possa dar seus passos
me mostrando o caminho para o mar
onde navegarei até a imensidão
deixando seu corpo apodrecendo
junto com todos os amores que me restaram
Soneto do Amor Total - Vinicius de Moraes
(Rio de Janeiro , 1951)
Amo-te tanto, meu amor... não cante
O humano coração com mais verdade...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade
Amo-te afim, de um calmo amor prestante,
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.
Amo-te como um bicho, simplesmente,
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.
E de te amar assim muito e amiúde,
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.
"Amor total" é um foto documental produzido por quatro alunos do segundo ano de Publicidade e Propaganda (Unicesumar): Mariana (eu!), Rodolfo, Paulo e Max. O trabalho tinha como objetivo principal mostrar, através de fotos, que o amor existe sim e se manifesta através de olhares, sorrisos e do companheirismo que se mantem mesmo com o passar do tempo.
Um agradecimento especial a todos que de alguma forma estiveram envolvidos na produção do vídeo, principalmente aos casais que com muita alegria e paciência nos receberam em suas casas.
amando-te na ausência
e em essência de saudade
a transparência em meus versos
escritos na tempestade
escritos na solidão
repletos de ansiedade
beijando-te em sonhos
doces sonhos que me alegram
recebendo teu corpo em sopros
dos ventos que nos rodeiam
dos ventos que alimentam
o sentimento em meu peito
querendo-te na vontade
que grita em meus lábios
buscando o calor dos teus gestos
e a proteção de teus braços
buscando tua poesia
e a minha tão sonhada salvação
quero sofrer todas as desilusões
pactuar com a lua e canções
beijar teus doces lábios profundos
sangrar amores carnudos
quero fazer rimas novas
lamber tua pele amora
me perder e jamais lembrar
jamais voltar
aquarelar
Bebo algumas doses da bebida mais forte
Sorrio para os amigos que me cercam
Aqui dentro o calor nos queima
E a música consome nossa alma
Pergunto onde você está
Como se você fosse um amigo de infância
E não um caso de uma noite que virou a página
A banda toca Oasis e eu sinto falta do seu beijo
Por algum motivo quero sentir o perfume da sua camisa
Garçom, traz mais uma, por favor
Já é madrugada e a chuva ainda não chegou
Os acordes agora formam uma música desconhecida
Você não vai aparecer
Tudo bem
Peço uma carona e vou para casa sonhar com anjos
Vou tocar um tango pra você dançar
Vou acender o cigarro que você vai tragar
Cansei das rimas prontas que escrevíamos
Hoje vou deitar minha cabeça e descansar em paz
Não quero ter que lutar contra meus pensamentos
E insistir para que meu coração te esqueça
Não, ele não vai esquecer
Não vai sair e fechar a porta fingindo que nada aconteceu
Não vai rasgar todas as páginas só porque você fez doer o amor
Não
Vou ler um livro (quem sabe dois) até a madrugada chegar
Vinicius de Moraes vai abençoar meus versos
Enquanto eu imagino você sumindo em meio à multidão
Hoje vou até o parque conversar com os pássaros
Ver os velhinhos passarem sem qualquer preocupação
Eles vão insistir para que meu coração te esqueça
Não, ele não vai esquecer
Não vai apagar as estrofes inacabadas
Não vai mudar os tons que já não alcanço
No fim esses acordes podem virar canção
E vamos descobrir que não foi amor
Vou acender o cigarro que você vai tragar
Cansei das rimas prontas que escrevíamos
Hoje vou deitar minha cabeça e descansar em paz
Não quero ter que lutar contra meus pensamentos
E insistir para que meu coração te esqueça
Não, ele não vai esquecer
Não vai sair e fechar a porta fingindo que nada aconteceu
Não vai rasgar todas as páginas só porque você fez doer o amor
Não
Vou ler um livro (quem sabe dois) até a madrugada chegar
Vinicius de Moraes vai abençoar meus versos
Enquanto eu imagino você sumindo em meio à multidão
Hoje vou até o parque conversar com os pássaros
Ver os velhinhos passarem sem qualquer preocupação
Eles vão insistir para que meu coração te esqueça
Não, ele não vai esquecer
Não vai apagar as estrofes inacabadas
Não vai mudar os tons que já não alcanço
No fim esses acordes podem virar canção
E vamos descobrir que não foi amor
no reflexo invertido
você me observa
de canto de olho
com o olho do canto
no reflexo invertido
respondo o olhar
meio disfarçando o interesse
um meio interesse disfarçado
você me bastaria
se o mundo desse basta
te chamaria de meu
ou acabaríamos em chamas
você me enviaria rosas
ou margaridas
e seu pé gelado encontraria o meu
embaixo dos lençóis
nunca seria amor
nem dor, por consequência
seríamos um desses casais
que não formam poesia
talvez desse certo...
você me observa
de canto de olho
com o olho do canto
no reflexo invertido
respondo o olhar
meio disfarçando o interesse
um meio interesse disfarçado
você me bastaria
se o mundo desse basta
te chamaria de meu
ou acabaríamos em chamas
você me enviaria rosas
ou margaridas
e seu pé gelado encontraria o meu
embaixo dos lençóis
nunca seria amor
nem dor, por consequência
seríamos um desses casais
que não formam poesia
talvez desse certo...
A lua quer ficar,
Quer roubar o lugar do sol
E ser dona da manhã
Dançar com as nuvens
Cor-de-rosa
Chover de tanto amar
A lua quer ficar comigo
E me namorar
Em dizer que
Escrevo o que
Vivo, mas sei lá
Será que vivo o
Que escrevo? Ou
Leio o que vivo?
Sei lá, todo mundo
Diz que sou toda
Melancolia, ou será
Uma metonímia? Um
Pecado mortal.
Quero apenas que
Todos se calem e
Me deixem escrever a
Vida, ou o
Sonho, metonímia
Tanto faz
Ao chegar na cozinha dei com mamãe chorando enquanto fazia o almoço. Cheguei a pensar que estava cortando cebolas, mas não; mesmo assim ela se desmanchava em lágrimas que poderiam temperar a comida em vez do sal sem problemas. Fiquei ali na porta, parada, observando as águas caírem e minha mente foi pra longe.
Mamãe nunca entendeu o por que da minha preferência por amigos homens em vez de gurias, e nem por que da minha boca sempre saem tantos palavrões. Mamãe nunca entendeu minha aversão por salto alto, e nem minha necessidade em usar tênis. Mamãe nunca entendeu meus gostos musicais, e nem minhas cantorias no chuveiro. Mamãe nunca entendeu minha paixão pelo jornalista e nem por que, de repente, eu me apaguei. Mamãe nunca entendeu porque escolhi publicidade, e nem por que escrevo poemas.
Mamãe nunca entendeu o que se passa em mim, e mesmo assim, naquele momento, vendo-a chorar pelos motivos que eu nunca entendi, cuspi o orgulho e a abracei.
E, então, chorei também.
Você me leva pro canto e sorri dizendo que me quer perto. Gargalho em seus beijos não acreditando. Ouvi dizer que você só conta mentiras. Tudo bem, gosto das mentiras ditas ao pé do ouvido. Seguro firme meu copo quase vazio enquanto você me prende em seu abraço. Se estivesse sóbria eu poderia até me apaixonar por você ou nós poderíamos sair pra tomar sorvete numa tarde de domingo. Penso nisso enquanto você passeia pelo meu pescoço e conta mais uma de suas mentiras pra me fazer sorrir. Você é um mentiroso, eu digo entre-beijos. E rimos feito duas crianças. Eu poderia me apaixonar por você. Eu poderia te fazer um poema, ou um café, ou até mesmo ligar na manhã seguinte. Seguro sua mão e te puxo pra mais perto. Você é um mentiroso e minha vodka acabou. Talvez a noite acabe bem.
faz calor e o dia acorda
passos rápidos descem escadas
carros lentos gritam raiva
e aqui dentro você me devora
rasga minha roupa, meu lençol
minha mente
e deixa o coração pra depois
esperando a hora certa
o cigarro queima na pia
e você vem pra cima
dizendo as mentiras que eu já ouvi mil vezes
como um reprise
e eu finjo nunca ter visto
embarcando na sua viagem
seus sete mares em meu deserto
implorando abrigo e vontade
continua fazendo calor
e o dia decide ir embora
assim como você e suas mãos
e sua boca e suas mentiras
me deixando com a casa vazia
o chão cheio de cinzas
minhas roupas no banheiro
e seu cheiro no colchão
Eu o vi passar de moletom e bermuda, bem como eu me lembrava. Observando tudo com seus olhos azuis indiferentes, passou por mim. Me deu aquele sorriso torto que eu bem conheço. Não disse nada. Ninguém disse nada, como sempre. "O saudade" sempre foi assim, na dele, e eu sempre fui assim, na minha. As coisas não mudaram muito. Ele ainda usa aquele tênis da nike com símbolo verde e eu ainda uso o mesmo perfume enjoado que ganhei no Dia dos Namorados de 2010 de um namorado que nunca mais vi. Ele dirige o mesmo carro, eu passo pelas mesmas ruas, ele trabalha ainda no mesmo lugar, e eu sempre olho lá dentro quando passo. Mas ninguém diz nada. Na verdade, nunca nada foi dito. Nem mesmo antes da partida, nem mesmo antes d'ele virar saudade, nem mesmo quando olhamos um pro outro com infinitas incógnitas a serem descobertas. Fomos destinados a não ser, e mesmo assim sentir saudade. Fomos destinados a não sentir, e mesmo assim ser saudade. Nada nunca foi dito e mesmo assim não dizemos nada. As coisas não mudaram muito.
1
Ah, olá querida, estava mesmo esperando sua visita. Como está quente hoje, não?! Pedi pra me sentar um pouco aqui na varanda e me colocaram nessa cadeira dura... Incompetentes, me tratam como se eu fosse louca. Sente-se também, sinta-se a vontade. Você emagreceu? Parece um pouco pálida... Como está sua irmã? Ela não aparece aqui há tempos... Ela esteve aqui ontem? Oh, desculpe, devo ter me esquecido. Tenho esquecido muitas coisas ultimamente. Acho que são os primeiros sinais da idade. Mas você parece doente, está pálida. Emagreceu? Tem que se alimentar. Estava almoçando com o governador agora mesmo. Ele e meu marido são grandes amigos, sabia? Conhece meu marido? Ele saiu daqui há pouco. Tinha grandes negócios para tratar na cidade, mas logo estará de volta. Quem sabe você o conheça. Ele é um grande amigo do governador, que a propósito, esteve aqui na hora do almoço dividindo conosco a mesa. Não sei se sabe, tenho três lindas filhas. Tive um filho homem também, mas coitado, Deus o levou cedo. Gostaria que um dia você pudesse conhecer minhas filhas. São três. A mais velha tem o mesmo nome que o seu, Pilar. Por que está chorando? Ora, tome um lenço. Não fica bem pra uma senhora na sua idade chorar. Mas o que eu dizia? Ah sim, o governador. Veio até a nossa casa pedir alguns favores ao meu marido. Fiquei incrédula, ora, onde já se viu um homem tão importante depender de favores de pessoas tão simples como nós? Mas aí, eu te explico, ele e meu marido são amigos de infância e, você sabe, quando a coisa na nossa vida fica complicada é sempre bom recorrer à ajuda de um velho amigo. Coitado, é um grande homem, mas parece ser mais burro que essa mesa de centro. Paciência... Fale-me mais sobre sua vida! Casou? Teve filhos? Conte-me sobre seu marido! Seu nome é Acir? Ora, Acir é o nome do marido de minha filha Pilar... Filha? É você? O que aconteceu? Por que estou sentada nessa varanda? Quem são essas pessoas? Repouso? Doença? O que está dizendo? Onde está meu marido?
2
Não sei por que vocês acham que eu preciso de ajuda pra tudo. Ora! É um tome cuidado de um lado, segure aqui de outro... Estou cansada de ser tratada como uma velha inválida. Se fosse a casa da família de meu marido isso não aconteceria. Na verdade, nem se eu precisasse de ajuda eu conseguiria. Minha sogra, que Deus ou o diabo a tenha, tinha um temperamento um tanto quanto ruim. Pra falar a verdade, ela era uma bruxa. Nunca gostou de mim. Queria que seu filho casasse com uma lady, ou algo do tipo, mas ele acabou se interessando pela italiana casca grossa aqui. Bruxa! Nos anos em que convivi com aquela velha rabugenta ela fez o inferno na minha vida. Não é a toa que seu marido partiu cedo... Acho que não aguentava mais viver no mesmo teto que ela. Vocês acham que eu sou difícil? É porque não a conheceram! Ah, com ela sim vocês teriam trabalho! Quando meu marido voltar do trabalho pedirei a ele que fale um pouco de sua querida mãe a vocês. É claro que ele fará um discurso engrandecendo sua eterna heroína, mas, no fundo, ele sabe que ela não passava de uma bruxa. A propósito, que horas são? Ele disse que viria me buscar para irmos ao teatro... Ou será que era ao cinema? Não consigo me lembrar. Na verdade... Do que estava falando? De repente tudo ficou confuso. Vocês sabem onde deixei meus sapatos de dança? Preciso deles. Meu marido logo estará aqui e me levará para dançar. Eu amo dançar. Vocês já foram dançar? Se não foram, deveriam. Uma mulher só encontra a felicidade verdadeira depois que tem uma dança com o homem que ama. Rosto com rosto, versos no ouvido, a mão dele na sua cintura... Onde será que ele está? Deve ter ficado preso no escritório de novo. Aquele escritório gosta dele. Às vezes acho que o escritório quer roubar meu lugar de esposa. “Estarei de volta logo”, ele sempre me diz ao sair, mas acaba sempre cedendo umas horinhas a mais ao capricho de ficar sentado naquela cadeira dura do escritório. Por falar nisso, que horas são? Logo meu marido estará aqui para, juntos, irmos ao parque...
3
Sabe, às vezes acho que estou morrendo. É estranho não ter certeza das coisas que estão acontecendo. Olhe pra você, uma estranha, e ao mesmo tempo sinto tanta familiaridade em você. Será que já nos trombamos pelos corredores da biblioteca municipal? Ou na quitanda da esquina? Ah, não consigo me lembrar... O que é isso? Tomar o quê? Remédio? Eu não estou doente! Vê se não me amole... Sabia que minhas filhas nunca ficam doentes? Essas três menininhas são mais fortes que touros. Já te contei que tenho três filhas? Já? Desculpe, Pilar... Quando estou longe do meu marido parece até que as coisas ficam embaralhadas na minha cabeça. Você poderia abrir a janela? Está quente aqui dentro, não acha? Sabe, Pilar, estou confusa. Essa aqui não é a minha casa... Não conheço todas essas pessoas. Não gosto de ficar no meio dos doentes. Não tenho nada contra os doentes, mas me sinto triste. Onde está meu marido, Pilar? Por que eu não consigo lembrar as coisas? Nossa... Feche essa janela, está frio! Hoje meu marido vai me levar ao parque, ou vamos ter um jantar na casa do governador. Não me lembro... Pilar, por que você está chorando de novo? O dia está tão bonito! Tão bonito que me dá vontade de ver o mar. Você já viu o mar, Pilar? O mar é como o amor: no começo nos dá calafrios, mas depois lava nossa alma até encontrarmos a paz. Acho que estou em paz. Que dia lindo! Mamãe deve estar preparando o almoço... Toda nossa família virá para comemorar o noivado de minha irmã. Sempre soube que ela casaria primeiro que eu. Será que vou encontrar um homem pra mim? Desculpe... Esqueci seu nome. Por que está chorando? Está um dia lindo lá fora. Um dia lindo para se apaixonar, não acha? Ah, eu queria conhecer o mar! Quero um homem que me leve pra conhecer o mar. Mãe? Mãe, acho que as visitas chegaram! Mãe? Minha mãe nunca me escuta... Acho que vou dormir um pouquinho. Você se importa de fechar as cortinas? Fique a vontade, e me acorde quando o céu chegar pra me buscar...
E nessa noite, por algum motivo ainda desconhecido, abandonei meus versos, abandonei minhas rimas, e decidi me entregar às lágrimas dessa chuva fria. O eco de meus passos voa pela rua e os olhares indiferentes me fitam por um ou dois segundos. Não sinto dor, não sinto amor. Sinto nada. Só continuo a caminhar em direção ao meu destino incerto e vazio, sedenta por companhia, sedenta por algum sentimento. A desesperança toma conta, e no escuro de meus pensamentos reviro antigas lembranças procurando um abrigo.
Mas então, como um raio de sol, você surge na estrada; um estranho obstáculo na minha jornada sem rumo; uma surpresa matando toda a monotonia da minha respiração. Parei, por um segundo ou dois, tentando entender as milhões de perguntas que dominaram minha corrente sanguínea. O que você fazia ali, parado no meu caminho? Por que seu sorriso iluminava toda tristeza da noite? Eu não sabia, eu não compreendia, mas em meio ao silêncio comecei a amar você; como uma forte droga inalada diariamente, transformei você no meu vício. Doces fantasias alimentei. Os sonhos mais coloridos protagonizei e fui vivendo de corpo e alma o "você" que tanto me consumia.
Mas você mal sabia que um simples "bom dia" transformava minha dor em remédio, e que o barulho lá fora virava canção quando por meu nome você chamava. Eu escondia minhas verdades, hesitava, até, enfim, uma pequena coragem me tomar conta.
E agora você sabe, eles sabem e eu sei que essa fantasia de nome "nós" na verdade nunca existiu.
12/02/13
Bom dia, dizem as flores
Trazendo cores, sabores ao
Pequeno jardim
O que são flores?
Amores? Ou talvez
Quem sabe: temores ou sim
Azuis, vermelhas, amarelas
Azaleias, sempre belas
Formosas feito jasmim
Mas será que as flores
São doces, sem dores ou
Imperfeitas iguais a mim?
Trazendo cores, sabores ao
Pequeno jardim
O que são flores?
Amores? Ou talvez
Quem sabe: temores ou sim
Azuis, vermelhas, amarelas
Azaleias, sempre belas
Formosas feito jasmim
Mas será que as flores
São doces, sem dores ou
Imperfeitas iguais a mim?
Flor, quem te fez flor?
Quem te fez bela?
Não é Isabela
Ou Anabela
E, sim, Maria
Quem te fez botão?
[de flor]
Quem te deu o perfume?
Preciso saber
E não por ciúme
Mas por admirar demais
Essa flor
[essa dor]
Exalando amor
A flor de nome: Maria
Bem-me-quer
[mal-não-me-quer]
Maria-flor colore meu jardim
Bem
Me
Quer
Quero também o bem
Quero colher a flor
E viver sem um porém
Porém, mas, todavia
A flor cresce até no asfalto
A flor é dona da via
Flor de Maria
Das pétalas escorrem o brilho
O brilho das gotas de mel
Se Maria é flor na terra
Imagine o que será no céu...
Seu perfume gruda em minha pele
Como que dizendo: “fica”
Inspiro o ar doce
Sinto seu calor em minha volta
“Fica um pouco mais”
O aroma me envolve como que dizendo: “venha”
Seus lábios passeando pelas ruas de meu corpo
Plantando as flores que um dia farão um imenso buquê
“Fica só mais um pouquinho”
Minha mão te busca
Minha mente desespera
É hora de partir
Subo no ônibus e te deixo
Esperando o amanhã chegar
Como que dizendo: “fica”
Inspiro o ar doce
Sinto seu calor em minha volta
“Fica um pouco mais”
O aroma me envolve como que dizendo: “venha”
Seus lábios passeando pelas ruas de meu corpo
Plantando as flores que um dia farão um imenso buquê
“Fica só mais um pouquinho”
Minha mão te busca
Minha mente desespera
É hora de partir
Subo no ônibus e te deixo
Esperando o amanhã chegar
dolores acorda tarde
e acende um cigarro
com o fogo do sol
aí já não se sabe
o que é dolores
o que é chama, o que é dia
dolores nem sabe
e se enche de luz
pra ser rainha da noite
das letras cuspidas em folhas
do álcool derramado no balcão
e do coração acelerado
dolores nem liga
dolores nem se importa
dolores só quer passear
só quer andar por aí
dançar com a lua a brilhar
e no outro dia acordar tarde
e acende um cigarro
com o fogo do sol
aí já não se sabe
o que é dolores
o que é chama, o que é dia
dolores nem sabe
e se enche de luz
pra ser rainha da noite
das letras cuspidas em folhas
do álcool derramado no balcão
e do coração acelerado
dolores nem liga
dolores nem se importa
dolores só quer passear
só quer andar por aí
dançar com a lua a brilhar
e no outro dia acordar tarde