Lamento à Irene

08:21

Poema na Edição nº 11 do Jornal O Duque

















“...teu rosto nunca me deu trégua”

Deixastes a casa vazia
Vazia como a dor que em meu peito se manifesta
Mulher Irene, quanta saudade traz tua ausência.
Em minha pele ainda guardo
Marcas de tua boca cor de sangue
E de tua selvageria que me atacava os sentidos.
És a agonia que sinto em meu corpo
O sopro distante do vento que corre...
A gaveta da direita abriga versos inacabados
Rimas incompletas que levam o cheiro de teu suor
O suor de tua pele macia e quente como o fogo.
Mulher Irene
O telefone silenciado já não chama por teu nome
E o rádio incomodado já não canta nossas canções
Tudo é cinza em tua ausência
Desde a brasa da lareira até os raios de sol
Tudo é ontem ou amanhã, nunca hoje
Nunca brilha, tudo é depois,
Tudo jamais chega.
Quero matar a saudade de fome e solidão
Me alimentar dos raios da lua que choram na noite
Adentrar a madruga com pensamentos de relógio
E buscar a manhã esquecendo que chegamos a existir
Não existíamos.
Mulher Irene, quanto desejo traz tua lembrança
Quanta sede deixastes nesse solo que não pode vestir chuva
Meus amores inquietantes em teu coração pulsante
Nossas almas frente à frente
O teu beijo!
Tua mão em minha nuca...
Nossas cores entre lençóis, suspiros e gemidos
Nossas notas melodiando até a lua e as estrelas
Tu e eu, Irene
Pronomes aquarelados em cinza e abandono
A vida era viva por viver em teus feitiços
O amor transbordava e invadia os teus planos
Eu podia ver através dos teus olhos
Penetrar tua alma com segredos e venturas
Segurar tuas mãos frias enquanto caminhava a esmo...
Mulher Irene, hoje não me resta muito
Alguns cigarros baratos, um violão desafinado
Roupas de cama sujas, sua marca de batom
Flores por regar em vasos tortos na janela...

Irene, Irene
Quero novamente ouvir a tua risada
Irene, ri
Quero morrer tarde e te enterrar com a mágoa

Você também pode gostar

0 comentários