Ressaca

17:30



Noite passada me perguntaram de você. Virei o copo antes de responder com um sorriso meio torto, meio triste: eu não sei. Todos em volta puderam sentir o abismo em que me colocaram quando citaram seu nome sem avisos prévios. O mesmo abismo em que me atirei quando você chegou em minha vida sem os mesmos avisos prévios. Tenho dormido pouco por causa do trabalho, bebido muito para esquecer o cansaço e mesmo assim perco tempo sonhando com nossos dias. Desde que você se foi parei de fazer tantas coisas, desaprendi de sentir tantas outras. Por vezes cheguei a esquecer o que fomos, e isso me causou dor. Não aquela dor física que passa com um ou dois comprimidos, mas sim aquela dor vazia que ecoa na alma sem a gente nem saber o por quê. Na verdade, desde que a primavera se foi é como se existisse um buraco dentro do meu peito e que nada pudesse preenchê-lo. Tenho procurado seus beijos em tantas outras bocas sem sucesso algum. Tenho colhido murchas flores buscando seu doce perfume, sem nada encontrar. Nada sacia, nada encaixa. É como se essa solidão fosse sua, só sua, e eu não tivesse autorização para me livrar dela. Chamei o garçom, pedi outra dose e continuei a noite. Talvez você invada meus sonhos novamente, talvez eu acorde sentindo sua falta, talvez seja só ressaca.

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