Vinhos, cigarros e madrugada

09:40

    

    “Você faria sexo comigo?” Foi o que ela perguntou enquanto dividiam o décimo cigarro da noite. Ele riu, confuso. “Por que está me perguntando isso?”. Ela corou sem saber o que dizer.
Fazia frio, depois de tantos meses quentes, e a lua tinha se escondido em meio as nuvens negras. Eles pareciam duas crianças perdidas que não queriam ser encontradas. Falavam sobre os astros, traços, passos, e na intimidade de olhares se consumiam em afinidade. Dividiam um maço e uma garrafa de vinho barato sem qualquer preocupação.
    “Eu faria sexo com você”, ele disse em resposta. Ela não sabia o que isso queria dizer. O encarou por um minuto e logo depois sorriu. Ele conhecia todos os seus segredos, e mesmo assim ambos fingiam não entender. “Acho que você está brincando com a minha cara.”
    Ela sabia de poucas histórias, e escrevia tudo em contos na mente. Achava que ele já havia dormido com tantas, partido o coração de outras e amado apenas uma. Não era ela. Qualquer uma. Ela não precisava saber.
    Ele tomou outro gole de vinho, acendeu o décimo primeiro cigarro da noite, olhou para ela e retribuiu: “E você, faria sexo comigo?”
“Mas é claro que não”.
     Ele riu, encostou a cabeça no ombro dela, e assim ficaram até o último cigarro apagar.

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